Meus filhos - Iago, Iana e Ayrá Sol - que me fizeram virar mãe do mundo!
Inara amamentando.
As convictas mães e militantes da Bem Nascer (Polly, Kalu e Rebeca - minha filha Ayrá Sol)
Graças a Deus, tudo está em paz ao meu redor. Meus filhos estão tranqüilos, em dias tão perigosos! Criar filhos nos dias de hoje exige uma diária diligência, atenção, oração! Mais importante ainda: um lar sossegado, um ninho de amor e acolhimento. Hoje é dia das mães e me pus a filosofar sobre essa mãe que cria filhos num mundo caótico, apocalíptico. Os filhos pós revolução industrial e feminina, como estão crescendo? Os filhos estão nascendo com déficit de amor. Sozinhos. As mulheres – muitas – com a conivência de muitos médicos, escolhem o corte da cesariana. As mulheres foram trabalhar fora. Os filhos? Delegados a terceiros – empregadas, escolinhas – ou avós e tios, que seria a melhor opção. Os filhos nascem de mães ausentes, que não querem sentir as dores do parto e renegam o ritual da fêmea humana, vão por conta própria para uma cesariana, não amamentam, não cuidam; na pracinha vão com as babás, nenê chorou, o entrega para a ajudante. Fui à Rádio Itatiaia esta semana, participar do programa Observatório Feminino – com mais três jornalistas e lá me informaram do lançamento de um livro de uma européia com o título Filhos Ferinos, que fala justamente das seqüelas deste desamor.
Parabéns às mães pelo seu dia. Dia de mãe é todo dia, diria. E é verdade. Temos uma importante missão a cumprir.Fazer outro ser dar certo, ser do bem. Isso implica em plantar, plantar, plantar no coração dos filhos: o bem, a compaixão, a caridade, a honestidade, a paciência... valores...ouro! Minha mãe, minha avó, minha mãe emprestada, Elisa- que foi uma “empregada” que virou mãe de nós todos – tenho 11 irmãos. Elas plantaram estes valores em meu imaginário e o cristianismo em meu coração. Por isso, agradeço primeiro às mães da minha vida.À minha mãe, Nivalda, que me pariu em casa, aos cuidados de um médico, em 1957, sem anestesia, deitada e sem dar um pio, pois era “muito educada”. E as avós, tias e comadres. Uma vez escrevi uma poesia que dizia :”os homens vagam pelas minhas letras. Fracas sombras. Atrás das mulheres. Fortes mineiras minerais viscerais”.
Mas agora quero agradecer especialmente a meus filhos, que protagonizaram comigo os momentos mais importantes da minha vida. E por eles meus braços zelaram, acolheram, meus peitos vazaram e o feminino em mim jorrou e foi bom! E é bom! Sinto-me realizada por ser mãe.
Agradeço a Deus por ser mãe de uma ONG, a Bem Nascer – pelo Parto Natural. De um movimento que cresce e multiplica como uma boa planta. Um movimento em prol do bem, do amor, da família. Que protege a célula, a raiz, o esteio. Que não espalha, mas ajunta! Que dá o devido valor à harmonia familiar.
Como semear nos tempos de hoje tão dispersivos! Tantas informações! Adubar bem o coração de nossos filhos com carinho, amor e respeito e, assim, não terão o coração frio e não serão ferinos, mas amorosos. Plantar boas sementes no coração e na mente de nossos filhos. O amor se aprende sendo amado e depois amando. E o ser amado começa no ventre, continua nos braços e seios de uma mulher, que a isso se dispõe, assim como os animais. Uma vez, vi uma cachorra amamentar dez cachorrinhos, deitada, aberta, entregue, sendo sugada ao mesmo tempo por dez boquinhas. Eu, que já amamentei quatro, um de cada vez, ficava imaginando! Percebi como a natureza é generosa! Por isso, voltar ao natural, ao parto natural, é mais que um jargão, um simples slogan, um simples modismo. É voltar ao cerne do ser. Ao primitivo. Ao instinto primário do nosso corpo. É o que senti quando pari pela primeira vez. Saciedade. E no útero. Uma sensação física de plenitude, palpável. Desde esse primeiro parto – há 24 anos – eu me transformei. Virei mãe do mundo.
Via um mendigo e pensava: meu Deus, ele já foi nenê e o olha o que deu! Ouvi duas acadêmicas falar dos indigentes, corpos sem donos em que elas estudam. Meu Deus! Ele nasceu nenê, participou do sonho de uma mãe e olha o que virou, menos que gente, indigente! Estava bojuda, quando estourou a guerra na Líbia e a guerra me foi sensível como nunca fora antes. Ai entendi, o mundo é governado pelos homens. Mulher não faria a guerra. Escrevi – “uma mulher que governasse com o útero, jamais faria a guerra! Como fazer guerra com o nenê no peito? Comendo as colheradas das papinhas? Com soltar bombas nas crianças na escola? Virei mãe do mundo e me indignei com todas as guerras dos homens. Fiz uma ponte entre meu universo materno e o universo ao meu redor, entre eu e um outro ser humano. Numa tal simbiose, em princípio, quando ele acabou de sair de nós, que seu choro repercute dentro da gente e nos misturamos tanto que já nem nos olhamos mais no espelho das vaidades, nada mais importa. Importa cuidar daquele pequeno ser e nele mergulhar com tudo. Dar mamá à vontade!
O eterno presente, tão buscado pelos meditadores em todo o mundo, me foi apresentado durante a amamentação. Amamentando, o tempo parava ao meu redor. Incrível! Fiz tantas terapias buscando calar as ondas mentais e isso se passa naturalmente durante uma amamentação.
Estava um dia numa fazenda no norte de Minas.Era o primeiro natal de meu filho Iago – hoje com 24 anos. Com ele nos braços, deixei o burburinho da festa e fui para a varanda, onde havia uma rede. A lua cheia cobria o vale e clareava a noite. Deitei na rede, tirei os seios e os dei à criança. Jesus Cristo estava no meu colo! Sagrado foi aquele momento!.
Estava um dia numa fazenda no norte de Minas.Era o primeiro natal de meu filho Iago – hoje com 24 anos. Com ele nos braços, deixei o burburinho da festa e fui para a varanda, onde havia uma rede. A lua cheia cobria o vale e clareava a noite. Deitei na rede, tirei os seios e os dei à criança. Jesus Cristo estava no meu colo! Sagrado foi aquele momento!.
Sonho muitas vezes que estou amamentando. A última filha amamentei dois anos. Aguardo os futuros netos.
Voltando ao programa Observatório Feminino. Enfocou a questão da mulher atual, dividida entre a casa e o trabalho. As mulheres foram para as ruas, mas o que foi colocado no lugar? Verdade é que se criou um vácuo, uma ausência dentro do lar. Os cientistas da humanização do nascimento dizem que há um déficit de amor nos que nasceram dessa mulher “moderna”. Ressalto que muitas conseguem administrar essa distância, conseguem ainda ficar próximas e mostrar seu zelo, muitas vezes ligando continuamente para casa e coordenando tudo de longe. Não condeno ninguém, apenas constato que essas novas atitudes tomadas pela mulher depois da década de 50 deixaram seqüelas. Conheci mulheres que triunfaram na carreira, são independentes, donas de si, mas quando chegam aos 50, sentem-se vazias, vazias de sentido, o feminino esteve ausente tanto tempo! Muitas começam a redescobrir o prazer de cozinhar o alimento, de cuidar da casa. Sempre há tempo para cuidar do feminino.
Hoje há dois tipos de menor abandonado, o menor carente de tudo, os filhos da miséria, os filhos do crack e da tragédia humana. E os menores abandonados das classes média, alta...Abandonados na hora do parto, em uma cesariana agendada em consultório. Abandonados para uma mamadeira fria de Nan, muitas vezes dadas por mãos de ajudantes. Abandonados do zelo e do cuidado do dia a dia, pois só o dia a dia ensina, cria hábitos.
Alguns terapeutas tem detectado uma possível seqüela da cesariana: uma dificuldade de tomar decisões, a dúvida, a dificuldade de escolher um caminho. Minha irmã Carla mora em São Paulo e é muito perceptiva. Ela observa os jovens no metrô e nos self services. “Eles todos os dias ficam em dúvida. Não sabem se pegam a couve ou a alface. Ficam relutantes e ao final comem sempre a mesma coisa: arroz, feijão, bife e batatas fritas.” Eles não nasceram, diria Tomio Kikushi – que entrevistei para o Jornal Bem Nascer – “eles foram retirados. A mãe não deu a luz!”
O guru da humanização do nascimento, o parteiro Michel Odent, disse que nunca na história da humanidade aconteceu algo semelhante, esse abuso da cesariana. Ele não sabe aonde vai dar. Acredita numa humanidade pré e pós cesárea. E radicaliza: tem medo de andar em um lugar em que é muito alto o índice de cesarianas. Ele relaciona a cesárea com a violência urbana. Ele cunhou a expressão “déficit de amor”. Por quê? Ele achou uma explicação química e que afeta o instinto humano. Durante o parto, vários hormônios entram em atividade. A ocitocina, chamou de hormônio do amor. Segundo ele, quando se aplica ocitocina em um ratinho, imediatamente ele cuida do que está ao lado, desperta nele um instinto materno. Além da ocitocina, estão em atividade a endorfina (hormônio do prazer) e a adrenalina, porque é necessário força para parir um filho. Numa cesárea eletiva, em que a mulher não entra em trabalho de parto, esses hormônios não entram em atividade e deixam de circular entre o corpo da mulher e o corpo da criança, não gera um elo instintivo e que permanecerá para sempre na vida desta criança. Por isso, após um parto, a mãe fica eufórica. Eu fui criada em uma fazenda no interior de Minas Gerais e vi as vacas paridas. Eram um perigo, defendiam a cria e estavam com o estado alterado de consciência, como “loucas”.
A cesárea é fria. Às vezes vem de uma mulher fria, que não quer se envolver, para que sentir dor? Vem no meio de mãos de médicos frios, mecânicos, tecnicistas, que desritualizaram o parto e se tornaram protagonistas de um lugar até então eminentemente feminino. Cortam o veio da vida sem necessidade. Geram sangue, suturas, costuras nos ventres, porque é mais prático, mais rápido, demanda menor tempo, principalmente o tempo emocional.
Quando o nenê chega ao colo da mãe, após ser aspirado e incomodado mais vezes que os filhos dos partos normais, demandam mais limpezas de mucos, a mãe também está dolorida e cheia de antiinflamatórios e antibióticos. O nenê mama remédios e muitas vezes é mal acolhido entre dores criadas por procedimentos iatrogênicos – que não são naturais do parto, mas criados pelo sistema hospitalar. São criados pela fria medicina dos anos 2000. Muitas vezes, ao invés de irem para suas casas, ficam nas UTIs Neo-natal para acabar de amadurecer os pulmões. Pense bem, se essa mulher dá mais importância à profissão e trabalha fora, com pouco entregará a criança para terceiros. E serão criados sem a presença da mãe. Serão os futuros deficitários de amor. E na adolescência, pais e filhos não terão link. Esse link se faz no ventre, na amamentação, no zelo diário até cinco anos de idade. A raiz deve ser fortalecida. Os corações das crianças saciados do amor dos pais. Torna-se o “adolescente problema”, “rebelde” e “tirano” dos dias atuais. Filhos de famílias desestruturadas. Esses dias vi numa reportagem na Cracolândia uma jovem dizendo: meu pai cheira farinha, minha mãe é viciada em crack desde a adolescência, meu marido está preso, o que eu posso ser? E vendo os rostos transtornados dos homens e mulheres dopados de crack, que eles chamam de “chifre do capeta” revi as ilustrações da Bíblia Ilustrada de minha mãe, rostos transfigurados dos diabos. Penso: eles foram nenês, são filhos, são sonhos de outras mulheres. São tantas as mães perdendo a luta para o crack, para o crime. Há um grande lamento de mães ecoando nos dias de hoje. Chorando perdas.
Nós, mães, devemos, acima de tudo, zelar espiritualmente pelos nossos filhos, para mantê-los numa boa vibração, uma boa onda, para os proteger das tragédias humanas. Orar por eles, pedir proteção aos anjos de guarda, antes mesmo deles acordarem. É o grande poder das mães, orar por seus filhos. Ainda hoje, tenho certeza, repercutem em minha vida as orações da minha mãe, extremamente devota, da minha avó Alice e da minha outra mãe Elisa; elas já partiram, mas antes, abriram caminhos para mim.
Mães, a vida dos nossos filhos está nas mãos de Deus primeiramente, mas são entregues sob a nossa responsabilidade e isso é muito sério. Devemos entregá-los para o mundo saciados de amor.
Aprendi uma oração e todos os dias rezo por cada um dos meus três filhos: Iago, Iana e Ayrá Sol.
“Senhor, vá a frente (falo o nome de cada um) para o guiar.
Atrás dele, para o proteger.
Ao seu lado, para o acompanhar.
Acima dele, para o abençoar.
Dentro dele, para o iluminar
E conservar a sua vida”.
Cleyse, Muito bacana esta postagem. Como sempre suas reflexões partem de um ponto de vista amoroso e consciente. Foi um grande prazer encontrá-la ontem no dia das mães, você que teve um papel tão importante na minha gestação e no meu parto. Foi um pouco "mãe" quando precisei, e agradeço de coração todo o seu carinho e suas benditas aulas.
ResponderExcluirSigo sempre o blog! Conte-nos sempre sobre sua rica experiência, você, uma geradora de bons frutos! Sejam eles quais forem (filhos, ong, aulas, gestos de amor, palavras abençoadas...)
Bjos,
Camila Morais.
Querida Camila,
ResponderExcluirQue bom te ver na feira ontem com sua mãe e a linda Diana. E saber da sua vida de luta, de uma verdadeira guerreira, que vai vencer, porque tem têmpera. Aprendo muito com você. Foi bom compartilhar momentos com sua na sua gestação e, depois, nas Rodas Bem Nascer.Obrigada pelas delicadas palavras, que cairam dentro de mim como pérolas.
Cleise
Lindo e emocionante texto...
ResponderExcluirParabéns querida Cleise,
grande mulher guerreira!