IMPRESSÕES DE UMA JORNALISTA, MILITANTE DO MOVIMENTO BH PELO PARTO NORMAL NO 53º CONGRESSO BRASILEIRO DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA.
É bom ser ONG, porque ONG é livre, as sinceras ONGs são a voz do povo. Somos donos dos nossos sonhos, militamos por puro amor no coração, não por dinheiro e somos a palavra que contesta as instituições cristalizadas em si mesmas, muito pouco dispostas a mudarem seus milenares pontos de vista. Somos os gritos das mulheres diante do sistema que as leva desnecessariamente para a mesa da cirurgia, abrindo o casulo da borboleta antes da hora, maculando o que é natureza e privilegiando a “ciência”.
O que vi no congresso? Vi o poder da indústria farmacêutica. Estou acostumada a fazer feiras de artesanato, fiz muitas ali mesmo na Expominas, mas é a primeira vez que vejo remédio virar mercadoria e a sedução do merchandising. Normalmente, os stands são de pé direito baixo, não com dois três metros de altura, vidro, neon, efeitos. Megas espaços oferecendo pelas mãos de mulheres bonitas cafezinho, biscoitinhos, sorvetes de todos os sabores para uma massa de médicos, fazendo fila para ganhar almoço, cheios de sacolinhas de brindes, adoçando suas bocas enquanto os olhos – não tinha como não ver – mergulhavam naquele universo de outros idiomas – nomes complicados dos laboratórios derivados de outras terras – ocupando os melhores lugares.
A própria SOGIMIG menor que os laboratórios. O stand da Belotur, que carinhosamente acolheu o movimento, também estava inexpressivo, diante dos 7 mil turistas que ali circularam. E o movimento BH PELO PARTO NORMAL, referência nacional, que está até merecendo a atenção do grupo de parto normal do Ministério da Saúde, ficou num canto apagado,diante dos holofotes dos laboratórios. Ao fundo, via-se um monte de caixas de papelão jogadas como lixo. A Secretaria de Saúde foi expulsa pela organização da feira no primeiro dia. Essa atitude repudiamos veementemente. As voluntárias ficaram panfletando e exibindo seus nenês nos slings.
Enfim, lá foram colocados o sofá e a poltrona vermelhos e a TV passou a exibir os vídeos Nascer e Renascer, Um Dia de Vida e o do Sofia Feldman. Muitos paravam para assistir. Apareceram por lá a funcionária da SMSaúde Fátima e depois chegaram a doula Izabel e a futura enfermeira obstetra, Thereza Senra.
Olha que já andei com esse quarto por lugares os mais diversos – feiras, praças, shoppings, sempre exibindo filmes de partos naturais – nunca vi tanta gente de queixo caído diante das fotos do Batistuta. Parecia que estávamos fazendo pornografia. Como podem os ginecologistas se assustarem tanto com as posições ginecológicas do parto? Deveriam estar acostumados.
Na verdade, acredito que o que os incomodavam eram os partos declaradamente belos, momentos verdadeiramente intensos; era o êxtase ou o sorriso num momento que para eles está revestido de dor, revelando o natural abruptamente, tirando-os do sono doce dos laboratórios.
ALGUMAS QUE OUVIMOS DURANTE A SEGUNDA FEIRA
Mas a experiência foi riquíssima, assim como passaram olhos assustados para as fotos e pipocaram comentários – isso é grotesco! – se eu visse essa foto, eu não ia querer ter filhos! – e quem se responsabiliza judicialmente por isso? Eu trabalho na APAE em Osasco e aumentando as cesáreas, diminuíram os clientes.
Por outro lado, contactamos com médicos e médicas de todo o país, afinados com a filosofia do parto humanizado. Vou listar os locais das pessoas em que coletei e-mails:
São Paulo, Americana, João Pessoa, Formosa/GO, Campo grande, Piauí, Porto Alegre, São José dos Campos, Curitiba, Goirere/PR, Itajubá e Campos Gerais (MG), Recife, Fortaleza e Aracajú.
Fizemos contato com dois médicos do sul de Minas, um deles é o Dr. Eduardo Sena da Costa Almeida, dono do Hospital OdontoMedi “sou adepto do parto normal, mas as minhas clientes querem cesárea”. Ele faz lá de 20 a 40 cirurgias por mês. Esta cidade e este hospital estão carentes de informações dirigidas a essas mulheres. Precisamos chegar ao interior de Minas.
Depois conheci o Dr. Amador Martins da Silva que disse que na cidade há mais dois obstetras adeptos do parto normal e eles tem em Campos Gerais índice de 35% de cesáreas. Ficamos muito felizes. Quando pedi o e-mail ele escreveu gabinete... Perguntei: é da Secretaria de Saúde do município? Não, sou o prefeito.
Dois contatos maravilhosos quando formos caminhar por Minas Gerais na CARAVANA BEM NASCER, um sonho que pode virar realidade...
OUTRAS
Uma médica diante de uma foto que a mulher está com os olhos como se estivesse
Em algumas perguntas, pude contar com a ajuda sempre tranqüila e didática do Dr. Dr. Marco Aurélio Valadares, da ONG e do Núcleo Bem Nascer, que conversou com vários médicos. Também passaram por lá o Dr. Sandro Ribeiro, também do Núcleo Bem Nascer e o Dr. Virgílio Queiróz, da Secretaria Municipal de Saúde. Os dois participaram de um fórum e falaram sobre atendimento na saúde básica e o aleitamento materno. Dessa mesa também participou Dr. João Batista de Oliveira, do Sofia Feldman.
Recebemos a visita do professor Heleuton Mendes, do Paraná. Ele contou que incentiva seus alunos a deixar que a mulher escolha a posição do parto.
Muitos profissionais que dão cursos para gestantes se interessaram pelas fitas ali exibidas. Seria interessante termos um canal e representarmos a vendas dos CDs aqui, porque eles levariam boas informações e boas práticas no parto para os outros lugares. Os filmes são verdadeiros exemplos, um deles mostra a Casa de Partos de Ceres/GO , o Sofia Fedman. Assim podemos suprir de informações os ativistas do movimento em todo o Brasil. Também podemos fazer um documentário das atividades públicas da ONG. Vamos formar uma Rede Bem Nascer
Quero ressaltar que vi pouco do congresso – mesas redondas, fóruns etc, tive informações de que o congresso foi muito rico em conteúdo científico.
Sei que na nossa simplicidade, em um espaço pequeno e sem o brilho ofuscante dos holofotes dos laboratórios, sem oferecer docinhos e guloseimas, fizemos contatos valiosos e tramamos humildes a nossa teia da vida, tentando preservar a natureza do nascimento e garantir aos novos homens que aqui chegam o direito de nascer naturalmente.
A luta de vocês do "Bem Nascer" é maravilhosa!
ResponderExcluirEstou impressionada! É uma verdadeira cruzada para resgatar a naturalidade perdida. É duro constatar que a vida tenha se distanciado tanto da própria vida.
Cleise, adorei o relato sobre o Congresso, até chorei!
Parabéns, e vida longa ao "Bem Nascer"!
Carla P Soares
Olá, estava pesquisando médicos de João Pessoa que trabalhassem na perspectiva da filosofia do parto humanizado, moro e João Pessoa e os medicos que ate o momento tive contato relutam quando se trata de parto natural. Vi que voces fizeram contatos com alguns médicos, inclusive em Joao Pessoa. Se possivel gostaria de maiores informações sobre estes.
ResponderExcluirAbraços
Brigida (brigidabezerra@hotmail.com)
Contactamos no congresso Rosana de Lucena (rosanadelucena@yahoo.com.br. Quem sabe ela pode te ajudar.Boa sorte. Cleise
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