sábado, 14 de março de 2009

RELATO DE PARTO RELATO DE VIDA

Durante a gravidez de Carolina tive o privilégio de ajudá-la a se preparar com Yoga. O Duane também fazia aulas com ela. No primeiro dia, lembramos que fomos colegas de trabalho em uma empresa. Carolina Ratton sempre foi tranquila e trazia na memória os ensinamentos de Márcia Ratton, referência em humanização do nascimento na década de 80. Estava intimamente preparada, gerando um parto tranquilo e maravilhoso. Foi bom compartilhar com ela esses momentos. Presenteio vocês com seu depoimento maravilhoso de parto, na presença de todos os familiares.

"Os planos são de Deus

Hoje tenho a convicção de que o parto da minha filha começou há 5 anos, em 2002, quando me casei com o grande amor da minha vida e planejamos ter um filho em 2006 ou 2007. Então, de lá pra cá, tudo correu conforme sonhamos e construímos, com as graças de Deus! Em 2005, comecei a me interessar por assuntos relacionados a gravidez, parto e filhos. Lia tudo o que via pela frente, me inscrevi em listas de discussão na internet e pesquisei muito para ter uma idéia mais profunda e crítica sobre esses assuntos, especialmente sobre a gravidez e o parto em si. Por influência da minha tia-mãe, que me pegou no colo ao nascer e me entregou para minha mãe, tive curiosidade em pesquisar e entender mais sobre o parto. Participei com ela de um congresso de humanização do nascimento e, de lá pra cá, depois de ler e trabalhar muito, conversar com pessoas da área, fazer cursos e ouvir experiências relacionadas ao tema, me tornei uma ativista e defensora do parto normal e natural, por entender que o parto é um processo fisiológico do qual nós, mulheres, somos exclusivamente capazes e perfeitas para vivê-lo da forma mais saudável e normal possível.

Bom, conforme os planos, em março de 2006 parei de tomar anticoncepcional, mas continuamos evitando a gravidez até o final do ano para que pudesse concluir alguns cursos e formações que estava fazendo. Engravidamos no final de dezembro, provavelmente no ano novo, e ficamos sabendo em 26 de janeiro de 2007, depois de três exames de farmácia (dois negativos ) e um de sangue "hiperpositivo"! Foi uma alegria extasiante!!! Imediatamente fomos à casa dos meus pais e da minha sogra pra contar pessoalmente! Toda a família ficou muito feliz!

Preparação para o parto

Passamos os 9 meses curtindo muito a gravidez e preparando a chegada da nossa 'Pequenina'. Afora um herpes zoster facial no início da gravidez, azia e pequenas dores na coluna e virilha no final, tudo correu maravilhosamente bem.

Fiz hidroginástica e fisioterapia para gestantes do 3º ao 9º mês e yoga com o Duane do 4º ao 8º mês. Lemos muito. Meu marido, que antes era muito receoso com partos e especialmente com parto normal, se tornou também um ativista do parto normal e natural junto comigo.
Um aspecto que considero fundamental foi a busca por um obstetra no qual pudéssemos confiar e acreditar que só faria uma cesárea se fosse absolutamente necessário e também que fosse adepto da humanização e do mínimo de intervenções e procedimentos médicos. Isso porque a minha médica e amiga de muitos anos me disse que não tinha experiência com esse tipo de parto e que essa "não era a sua praia". Ela era favorável ao parto normal, mas com todas as intervenções de rotina, além de me dizer que esperaria até no máximo 38 semanas de gestação, porque além disso ficaria arriscado para o bebê. Na conversa que tive com ela sobre alguns procedimentos e intervenções como episiotomia, lavagem, tricotomia, Kristeler, entre outras, e do meu desejo de um parto de cócoras ou na água, ela me disse que nós, mulheres ocidentais, não temos períneo pra isso - "isso é coisa de índio, que vive agachado e agüenta essa posição". Bom, com isso, ela me deixou à vontade para ir a outro médico e foi o que eu fiz! Consultei outros dois médicos considerados adeptos a práticas humanizadas e optei por um deles. Encontramos nele um profissional com a prática diária do parto normal e natural que, com a sua tranqüilidade, experiência e, acima de tudo, ética, nos ajudou a fortalecer nosso desejo por esse tipo de parto.

Medos e incertezas

Apesar de toda a preparação, leitura e conversas com as mais diversas pessoas, passei por muitos momentos de incertezas quanto ao tipo de parto. Ficava pensando se não estava idealizando demais e tinha inclusive medo de me frustrar por não conseguir ter um parto natural ou mesmo normal. Ao mesmo tempo em que queria muito, também receava não dar conta da dor e de todo o trabalho de parto, por isso pedi muito ao obstetra que eu tivesse a possibilidade de tomar anestesia caso eu pedisse na hora H (ou melhor, na hora P). Além disso, tinha dúvidas também quanto ao local do parto: queria que fosse um lugar com todos os recursos disponíveis caso eu ou minha filha precisássemos.

Esses e todos os outros medos e incertezas duraram por toda a gestação, apesar de irem diminuindo mais no final. Mesmo assim, a escolha do local do parto foi com aproximadamente 36 semanas, bem pertinho da data de nascimento da Larissa. Escolhi a Casa de Parto depois de muito conversar com o Obstetra, com a Ana Flávia e com a Rebeca.

Sentimentos e escolhas

Nossa "Pequenina" foi crescendo e, a cada dia, era mais gostoso senti-la se mexendo dentro de mim. Aliás, a primeira vez que a senti mexer foi delicioso! Estava vendo TV e achei que eram gases, mas não, era ela mesma mexendo pra lá e pra cá! Eu chorava e ria ao mesmo tempo e meu marido não entendia nada... só queria saber o que estava acontecendo. Ele demorou um pouco mais a conseguir sentir ela se mexendo na minha barriga, mas, quando sentiu, ficou superemocionado também. Ele aprendeu a ouvir o coraçãozinho dela na minha barriga e comprou um Pinar só pra isso!

Antes de nos casarmos, combinamos que nossa filha se chamaria Clara ou, se fosse menino, Gabriel. Como na família já tinham muitas "Claras", decidimos que escolheríamos outro nome, até porque não estávamos gostando muito desse mais. Demoramos a escolher... Pesquisamos em vários livros de significado de nomes e um dia me veio à cabeça o nome LARISSA. Fui ver o significado e gostei muito: cheia de alegria (nome de origem grega). Ainda assim gostávamos também de Gabriela, Letícia e alguns outros. Mas Larissa sempre estava no "top" das paradas e foi o escolhido pelo nosso coração!

Expectativa

Larissa estava prevista para nascer 22 de setembro pela DUM (data da última menstruação) e 28 pela US (ultrassom). Porém, no sábado, dia 15, quando eu ía fazer as unhas, depilar e preparar nossas malas, ela nasceu! Trabalhei até sexta-feira, véspera do nascimento da Larissa.
Tive uma consulta dois dias antes e estava com 2 cm de dilatação. Foi o primeiro e único exame de toque antes do parto. Estava com fortes dores na virilha que me impediam de ficar sentada ou deitada por mais de 20 minutos... mal sabia que já era meu corpo se abrindo para o nascimento da Larissa.
O dia mais cheio de alegria ( 15 de setembro de 2007)

Por volta de nove da manhã de sábado, depois de tomar café, comecei a ter umas contrações diferentes das que vinha tendo nos últimos dois meses... Era uma contração na parte inferior da barriga e não nela toda como antes. Não eram doloridas, então continuei me arrumando para ir depilar. Percebi também que estava perdendo um pouco de líquido amniótico e que o tampão havia saído. Pedi ao meu marido para ligar para obstetra e contar o que estava acontecendo. O obstetra perguntou a duração e freqüência das contrações. Como eu não tinha contado ao certo, falei que estava durando uns cinco segundos e que o intervalo era de uns 10 minutos... isso baseado no meu 'achômetro'. O obstetra falou com meu marido para eu me deitar um pouco e descansar porque provavelmente eram só as contrações de Braxton Hicks. Tentei fazer o que ele falou, mas simplesmente não conseguia ficar deitada, meu corpo não queria e não aceitava...

Resolvi então tomar banho para sair. Durante o banho, as contrações se intensificaram e pedi para meu marido cronometrar... pasmos... estavam durando 40 segundos com intervalo de 3 minutos entre uma e outra... Falei pro meu marido arrumar as malas, mas também pra ficar comigo durante as contrações que estavam mais intensas e doloridas. Ele ficou doidinho, porque eu dava mil ordens ao mesmo tempo! Além disso, ele não acreditava que Larissa estava mesmo prestes a nascer. Ligamos novamente pro obstetra e ele pediu para irmos para a Casa de Parto que lá o enfermeiro me examinaria e passaria as informações pra ele acompanhar.

Liguei pra minha mãe, disse que estava parindo e pedi que ela viesse rapidamente pra minha casa. A presença, a participação, o carinho, o apoio, o amor e a força dela e do meu pai eram fundamentais naquele momento tão marcante da minha vida. Entre uma contração e outra, eu ía me vestindo e pedindo ao meu marido pra pegar uma coisa e outra para levarmos... parecia mais que íamos viajar de férias por um mês, pois levamos umas quatro bolsas de viagem com roupas, acessórios, kit alimentação (Gatorade, biscoitos, etc).

Durante as contrações, só conseguia ficar agachada ou "de quatro" no chão. Meus pais chegaram à minha casa quando já estávamos prontos pra sair - isso devia ser por volta de 10 ou 11 horas da manhã. Fui "de quatro" no banco de trás do carro, com meu pai na frente, meu marido dirigindo e minha mãe comigo atrás achando que a Larissa nasceria ali mesmo! O trânsito estava caótico, tinha algum evento no Centro de Belo Horizonte e estava tudo engarrafado... nessa hora comecei a me arrepender de escolher um local tão longe da minha casa para dar à luz... puts, parece que demorou horas pra chegar à Casa de Parto do Sofia Feldman. No caminho, ía pedindo à minha mãe pra ligar pro obstetra, pra Ana Flávia, pra moça das lembrancinhas. A bolsa terminou de romper no caminho, dentro do carro.

Na Casa de Parto do Hospital Sofia Feldman

Chegando à Casa de Parto, a Ana já estava nos esperando na porta. A Ana Flávia é uma amiga que preparou tudo... deixou todos e tudo a postos para minha chegada e o nascimento da Larissa - a considero uma irmã de coração. Ela leu meu plano de parto e providenciou tudo! Preparou o quarto da banheira com música clássica, penumbra, me deu de presente a doula, me deu chocolate, suco e vários comes e bebes durante o trabalho de parto. Ela filmou e fotografou e foi uma presença superimportante!

Entrei às 12 horas engatinhando na Casa de Parto e, ao ser examinada pelo enfermeiro, estava com 4cm de dilatação. Fiquei embaixo do chuveiro, sentada na bola com o apoio e o carinho constantes do meu marido da minha mãe (que ficou ao meu lado o tempo todo, me dando todo amor e carinho que só ela sabe dar!) e da doula que me orientava e conversava comigo - ela foi uma fonte de força e concentração durante todo o tempo. De vez em quando, o enfermeiro vinha auscultar o coraçãozinho da Larissa, enquanto o quarto estava sendo preparado.

De vez em quando também, meu pai e minha sogra entravam pra me dar um 'alô' e dizer que estavam ali comigo! Por volta das 15 horas, o enfermeiro fez outro toque e constatou 7 cm de diltação. Durante esse tempo, fiquei rebolando na bola, embaixo do chuveiro (que relaxava e aliviava muito as contrações) e respirando. Bebi água, tomei suco, comi chocolate. Depois de algum tempo já não conseguia mais ficar sentada na bola, só de pé. Também comecei a ter a famosa vontade de fazer cocô. Por volta das 16 horas, fui para o quarto da banheira e, no caminho, já vi o obstetra com sua tranqüilidade de sempre. Fiquei superfeliz e segura ao vê-lo!

Quando entrei no quarto, fiquei emocionadíssima! Todo escurinho, quentinho, com uma musiquinha suave e um clima superaconchegante que a Ana Flávia preparou junto dos outros profissionais. Ali pude vivenciar o que entendia por "Casa de Parto". Realmente era um ambiente caseiro, com pessoas afetuosas e acolhedoras. Nada daquele cheiro, daquelas cores acinzentadas e do clima frio dos hospitais.

A banheira: hummmm!!!

O obstetra pediu para me examinar antes de entrar na banheira e verificou que eu já estava com 9 cm de dilatação. Eu já não conseguia mais ficar sentada, nem deitada, e, ao colocar os pés na água, me senti absolutamente relaxada, foi como se eu tivesse tomado um analgésico ou anestesia, impressionante, até gemi de prazer! Os intervalos das contrações ficaram maiores e a dor ficou bem mais amena. Ainda não tinha vontade de fazer força. Meu marido ficou atrás de mim, me apoiando, dando força, carinho e amor, a doula me dando água e orientando as respirações do meu lado, minha mãe do outro era pura emoção, minha sogra quietinha olhando e torcendo, a técnica de enfermagem assessorando o obstetra e a Ana filmando e fotografando tudo. Essa era a Casa!

Nasceu a flor mais bela do nosso jardim: Larissa

Fiz força somente quando meu corpo pediu (e ele pede mesmo!) e, mais perto do momento expulsivo, tive a sensação de que ia rasgar toda. Quando o obstetra falou que só faltava a Larissa vencer a resistência do meu períneo, pedi pra ele cortar tudo porque já estava cansada e com muita dor. Mesmo assim não tive vontade e nem senti necessidade de tomar anestesia. No final, pedi socorro, ao que o obstetra comentou: pronto, pediu socorro agora vai nascer! Falou também que bastava eu dar uns dois gritos com bastante força que a Larissa nasceria.

Meu pai estava do lado de fora assustado com meus gritos e, ao ver a técnica de enfermagem entrando no quarto com oxigênio, ficou apavorado! Eles colocaram um espelho pra eu ver a cabecinha dela saindo, eu coloquei a mão nela, mas tive bastante aflição. Ela nasceu às 17:20 e, na hora da expulsão, eu não senti ela nascendo. Como ficava a maior parte do tempo de olhos fechados, viajando meio em transe entre uma força/contração e outra, depois que ela nasceu continuei assim, esperando. Foi quando o obstetra falou pra eu pegá-la - ela já estava no meu colo e eu achando que ainda viria outra contração. Tomei o maior susto quando a vi no meu colo, fiquei abraçando, fazendo carinho nela e perguntando a todos se ela tinha nascido mesmo! Dr. João falou pra eu segurar o cordão e dizer quando ele parasse de pulsar. Eu estava tão extasiada que não senti nenhum pulsar. Depois que parou de pulsar, meu marido cortou o cordão que, segundo ele, é muito duro, e ficou com a Larissa no colo, enquanto eu saía da água pra expulsar a placenta e ser examinada. Não tive nenhuma laceração, a placenta saiu e estava ótima, não levei pontos e não precisei de ocitocina (nem antes, nem durante, nem depois do parto).

Larissa mamou enquanto fiquei ali deitada e foi maravilhoso vê-la olhando pra mim e procurando o peito. Meu marido levou nossa flor pra ser pesada e medida depois de uma ou duas horas que ela ficou no meu colo. Conversamos com o obstetra e autorizamos que ministrassem o colírio de nitrato e a vitamina K na nossa filha.

Larissa nasceu com 45 cm, 2.790kg, apgar 9 e 10 e lindíssima!!! Enquanto era examinada, tomei café com leite e pão com queijo que minha mãezona, minha sogra e a doula foram me dando na boca. Depois disso, levantei e fui para o outro quarto tomar banho e me arrumar. Quando estava indo de um quarto para o outro, vi que já era noite e fiquei impressionada porque tive a sensação de que tudo tinha durado somente 2 ou 3 horas, pensava que ainda seriam 2 ou 3 da tarde e já eram 7 e tanta da noite. Foi um parto realmente maravilhoso e indescritível. Todos ficaram impressionados e eu mais ainda! Essa foi a experiência mais forte, linda e Divina que vivi em toda a minha vida. Realmente toda mulher deve ter o direito e lutar para vivenciar o parto da forma mais prazerosa e intensa possível. Vale a pena mesmo!!!

Larissa nasceu muito saudável, mas, no dia seguinte ao parto, precisou ser aspirada porque estava bem nauseada. Fiquei com ela o tempo todo e foi bem rápido, ela até dormiu enquanto era aspirada.

Experiência Divina

Um amigo nosso comentou com meu marido: "Puxa, a Carol é macha pra caramba!", e eu fiquei com essa frase matutando na minha cabeça: como nossa sociedade fragiliza a mulher e a coloca como incompetente e incapaz de fazer algo que só ela pode fazer! Por que será que para parir assim, naturalmente, somos consideradas 'machas' e não FÊMEAS?! O parto pra mim foi o apogeu da feminilidade, uma experiência única. Vi Deus, literalmente, ao ver Larissa em meus braços.

Ser mãe está sendo o maior desafio da minha vida, é um aprendizado diário e um amor realmente absoluto. Amamentar também é uma experiência superprazerosa, gratificante e empoderadora, porém, também considero um desafio, especialmente no início, quando o leite ainda está descendo e a produção se equilibrando às demandas do bebê. O apoio do Duane e dos meus pais foi fundamental. Aliás, o amor e a admiração que tenho pelos meus pais ficaram cada dia mais intensos depois do nascimento da Larissa. Eles são demais!

Sou eternamente grata a Deus, por me capacitar e me permitir uma experiência de vida como essa. Ao meu marido, que com seu amor, carinho e companheirismo embarcou fundo nessa comigo. Aos meus pais, que, com amor incondicional, me ensinaram a ser mãe e estão sempre comigo. A Ana Flávia, ao obstetra, às minhas fisioterapeutas, à minha professora de yoga, à minha amiga que corrigiu esse relato, aos profissionais de saúde que me assistiram e a todos que torceram, orientaram e acompanharam essa jornada: muito obrigada de coração!"

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