Parto Quiabo. O nome é esquisito, mas não existe melhor para a situação que viveu Simone no parto do sua filha Júlia. Ela foi ficando em casa, esperando adiantar mais para ir para a maternidade. Acabou parindo em sua casa, assistida por seu marido Júnio, que a doulou maravilhosamente bem, amparando seu filho em seu primeiro minuto de vida. Nós a conhecemos na Roda Bem Nascer e todos ficamos encantados com a sua experiência de parto absolutamente natural, mostrando que para parir é necessário apenas uma mulher e um nenê. Ela permitiu a divulgação do seu relato emocionado em nosso blog/jornal e a publicação da foto.
Após 10 anos tomando anticoncepcional devido ao ovário policístico, resolvi parar de tomar e deixar a natureza acontecer (as pessoas falavam que eu demoraria a engravidar), no primeiro ciclo aos 28 anos, na primeira tentativa, dia 09/10/2009 (fiquei fértil dia 06 e 07), lua minguante, engravidei. Descobri um certo tempo depois, pois ainda tinha dúvida e pensava que o atraso era devido ao ovário policístico.
Me preocupei com a alimentação saudável, tentei fazer exercícios, alongamentos, me sentia maravilhosa com a sensação de ter um bebê em meu ventre, ansiava pela saúde sem importar com o sexo do bebê, não tinha curiosidade.
Depois da euforia da descoberta gravidez, eu pensava no parto, queria um parto normal, mas não da forma como é hoje, meu maior medo: A POSIÇÃO, soro, anestesia, lavagem, raspagem de pelos com “corte”, toques; de certa forma, achava que todas as intervenções poderiam atrapalhar, descobri que há estudos que afirmam isso, que há grupos de pessoas maravilhosas que lutam pra informar isso às mulheres e ajudar em todos os sentidos e com 23 semanas recebi um folder sobre a ONG bem nascer, na feira de gestante. Lia relatos de parto e todos os emails da lista. Achava estranho tantas cesáreas, amigas sem passagens, cordão enrolado no pescoço e outros motivos pela abominável cesárea, pra mim não havia dúvida, algo de errado também com os profissionais, falta de orientação para a mulher parir.
Apaixonei por tantos relatos lindos de parto e não havia dúvida, um certo medo ainda existia, com 24 semanas conheci a casa de parto e já estava decidido, o lugar é maravilhoso, e como eu não tinha certeza se conseguiria um parto natural, caso quisesse anestesia, era só subir para o hospital, isso me tranqüilizava. Parto Domiciliar (PD) não passava pela minha cabeça.
Meu gineco fugia do assunto parto, mudei de profissional com 27 semanas e começava então a resgatar minha confiança de uma mulher parideira.
O Ultrassom com 11 semanas, a DUM e as 09 luas indicavam DPP: 02/07/2010 (40 semanas), eu pensando na concepção: 09/07 +- numa data mais pra frente pra controlar a ansiedade: 20/07 (42s e 4dias).
Com 38 semanas, em junho, tive um lindo Chá de Bênçãos, ganhei uma massagem especial que me foi informado que ela iria nascer logo, estava preparada para a Júlia nascer; o marido já queria ser o doulo oficial, mas confesso que achava que isso era mais pra frente, apesar de perceber que meu corpo começava a agir, ainda assim meus maiores medos: não entrar em trabalho de parto ou ser internada cedo no hospital, da bolsa estourar em um lugar onde as pessoas quisessem me internar cedo, mesmo na linda Casa de Parto do Sofia onde eu havia escolhido parir devido ao respeito pelo ser humano, eu não tinha medo da Júlia nascer em casa, no ônibus, no carro ainda mais depois que descobri que o cordão não precisava ser cortado em determinado tempo e que o cordão enrolado no pescoço não seria problema.
Com 39 semanas (sexta-feira) , mudança pra lua cheia eu pensei, posso sentir algumas “dores”, sinais, trabalhei normalmente apesar da preocupação do pessoal do serviço caso a bolsa estourasse, copa do mundo 2010 e jogo do Brasil x Portugal: 0x0, Brasil classificado pras 8ªs como líder.
Por volta de 22:00 maridão chegou e foi deitar. Comecei a sentir umas cólicas, não conseguia dormir e a posição deitada, já incomodava. Ia sempre ao banheiro fazer xixi e fica por lá era sempre bom. +-00:00 resolvi jantar, precisava comer algo, via TV, sem saber o que estava passando, não pensei em avisar ninguém, não tinha certeza se o trabalho de parto iria continuar, nem mesmo que era tp, não contava tempoxduração da contração apenas tentava relaxar, às 02:00 as contrações começaram com mais intensidade, mas sempre suportáveis, melhor posição: sentada no vaso, fazendo xixi ou balançando. Pensei em ligar para meu obstetra ou para minha doula Rebeca (eles deviam estar domindo), ela mora em Divinópolis, iria chegar pela manhã e eu acreditava que ainda estaria em tp, queria apenas que ela viesse pra casa primeiro, mas daria tempo pra avisar, vamos esperar um pouco Júlia. O marido sempre perguntava se eu não iria dormir, pois sempre ia ao banheiro, eu até tentava dormir, mas incomodava ficar deitada e sempre levantava.
Ir para o Sofia? Não devo ter nem 5cm de dilatação, ta cedo. Vamos ficar o máximo que agüentar, firme, conversava a todo momento com a Júlia. Ia sempre ao banheiro fazer xixi ou cocô, e aparentemente saía um líquido mais claro, cheirei e não senti cheiro de água sanitária, pra saber se era o líquido da bolsa.
Tomei um banho, aliviou não sei quanto tempo fiquei na ducha, pensava que poderia ser a lua cheia trazendo alguns pródomos. Fiz cocô 3 vezes, limpando meu intestino, não precisaria assim de lavagem.
Antes das 04:00, eu pedi ao Júnio que enviasse uma mensagem no celular pra Rebeca, aparentemente o tampão saiu, pra ela vir pra casa quando chegasse, entrei na ducha e logo depois eu disse, liga pra ela que eu não estou agüentando mais, ele ligou, mas não lembro direito, eu saí da ducha e fui tentar dormir/descansar ele intensificou a massagem, eu pedi música e falava pra ele conversar com a Júlia e fazer muita massagem que eu iria dormir, ficamos por algum tempo, falei pra ele mandar eu respirar profundo e ele falava: - inspire mais profundo, mas em meio a isso tudo, eu pedia a Deus, NªSra Aparecida e para minha Vó materna que me ajudasse a ser mais uma mulher forte e me iluminasse, pedi anestesia pro meu marido, pedi que me desse uma cesárea, depois ri e falei que era brincadeira (eu não tinha idéia de que eu estava na hora P, impressionante a minha idéia que eu devia dormir/descansar, pra entrar em trabalho de parto o sábado todo, ou apenas passar pelos pródomos, isso deve ter intensificado a “dor” e prolongado, eu tentava lutar contra o natural: escolher a melhor posição).
Depois das 04:00 fiz vômito, que o marido/doulo limpou carinhosamente.
Ele disse: - agora vamos para o Sofia, vou ligar pra rebeca e avisar, pode ser?
Concordei, mas antes eu sentaria no vaso pra aliviar a dor e descer as escadas, ele fazia massagem, porém sentei, comecei a fazer tanta força que não “respirei” entre as forças, mas não conseguia parar, era gostoso fazer força, coloquei a mão em baixo e disse:
- A Júlia vai nascer, eu nem conseguia acreditar, coloca a mãe ai embaixo, não puxa, espera ela sair e apara.
Ele colocou a mão, veio bolsa e bebe tudo de uma vez, ela meio escorregadia, ele colocou a bebê no meu colo e de repente eu fechei a perna, ela tinha 2 voltas de cordão no pescoço e no braço, ele ficou preocupado de não dar pra eu pegar ela no colo, mas eu disse: -calma.
Desenrolei o cordão, pedi 2 fraldas pra enrolá-la, ela deu um pequeno choro, falei que ela foi linda e maravilhosa, ficamos todos nos olhando, chorando sob a luz apagada, uma emoção indescritível. Ela mamou um pouquinho e ficou quietinha no meu colo. Perguntei que horas ela nasceu +-, ele olhou e falou: 05:25’. Não doeu nada pra ela sair, foi tão rápido.
Pedi pra ele ligar pro corpo de bombeiros, nem lembramos de UNIMED ou de tirar fotos, não pensei em sair e parir a placenta em outro lugar, a placenta saiu no vaso mesmo, eu sabia que tinha lacerado e receava hemorragia, ligamos para os avós que ficaram impressionados. Os bombeiros chegaram uns 20 min depois, cortaram o umbigo, eu tomei banho e desci os 3 andares com ela no colo, eles perguntaram se eu estava com tonteira ou fraqueza, mas eu disse: estou ótima.
Os bombeiros estavam admirados, perguntamos sobre a possibilidade de ir pro Sofia, mas os bombeiros foram claros: teríamos que ir pro hospital mais próximo. Fomos pro hospital Municipal de Contagem.
A lembrança que tenho do parto: eu tentando lutar contra a vontade de aliviar a dor (sentar no vaso), tentando descansar para o possível trabalho de parto, a Júlia nascendo e nós 3 juntos no banheiro, melhor do que o esperado e o doulo todo empolgado e feliz, é maravilhoso relembrar o nascimento dela.
Obrigada a todos que acreditaram, incentivaram, responderam a todas as dúvidas e contribuíram para este momento maravilhoso.
Beijos.
Simone
Simone, me emocionei com seu post! Faltam mais ou menos 10 semanas para meu bebe nascer e tudo que eu mais quero é poder contar uma estória como a sua!!! Parabéns por reconhecer e respeitar seus instintos. Muitas felicidas com a Júlia.
ResponderExcluirPS.: Parabens tambem para o Junio, que é um exemplo de marido!