segunda-feira, 2 de setembro de 2013

RODA BEM NASCER ENFOCA O PARTO HOSPITALAR NA REDE PRIVADA E PROMOVE UM RICO DEBATE!

RODA BEM NASCER – 31/08/2013

PARQUE DAS MANGABEIRAS – (Centro de Educação Ambiental/CEAM)

Participação: 28 pessoas

Palestrante convidado: Dr. Hemmerson Magioni (obstetra, coordenador do Instituto Nascer e do corpo clínico da Maternidade Santa Fé)


A última Roda Bem Nascer chegou a duas conclusões, depois de ouvir os obstetras Hemmerson Magioni e Lucas Barbosa, que chegou de surpresa e enriqueceu muito o debate: a formação dos profissionais de saúde envolvidos com o parto deve abordar a assistência humanizada. As universidades devem dar aos alunos a oportunidade  de vivenciarem este outro modelo de assistência ao parto e nascimento. E a educação de crianças e jovens, sensibilizando-os para o sagrado e a beleza da naturalidade do parto, é um bom caminho para mudança do paradigma. Os obstetras aprenderam os procedimentos nos livros,nas escolas, e só agora o que aprenderam ganhou um nome - violência obstétrica. Há que se repensar procedimentos, mudar currículos.As universidadesdevem trabalharem baseadas em evidências científicas.

Hemmerson Magioni  o palestrante convidado,  já atuou no serviço público – no Hospital Sofia Feldman ficou dez anos – e, hoje, atende à saúde suplementar. Faz parte do corpo clínico da Maternidade Santa Fé.  Fundou o Instituto Nascer, composto por uma equipe multiprofissional e é uma opção para as usuárias dos planos de saúde. Ele foi chamado a  falar sobre a assistência humanizada na rede privada,  pois muitas mulheres querem ter seus filhos nas maternidades, assistidas por médicos e querem ser respeitadas. Como fazer? Como blindar a instituição, a medicina mecânica e rotineira, os rituais do nascimento, as intervenções desnecessárias? Como garantir um atendimento respeitoso e não invasivo da pediatria?

Todos estes assuntos foram abordados na Roda. Seis estudantes de enfermagem  da UFMG participaram como observadores, mas ao final deram o depoimento emocionado. Sentiram-se tocados e instigados a seguirem a enfermagem obstétrica.  Sensibilizando os inúmeros estudantes que frequentam as Rodas, da UFMG, da PUC e outras e cada mulher que nos procura, a ONG Bem Nascer  segue fazendo seu trabalho de formiguinha. O depoimento de parto completo da Flávia Campos foi disponibilizado para divulgação, logo o postaremos. No debate, ela resumiu o trabalho de parto e ilustrou com o seu exemplo um parto domiciliar. 


O Parto da Princesa

Hemmerson começou falando da Princesa Kate que teve seu filho no sistema público de saúde, de parto normal, sem intervenções, um menino de 3.800 kg. Disse da dicotomia serviço público de pouca qualidade e dos confortos do privado. Existe um questão  social, familiar, cultural, diversas vivências de parto. Algumas ouvem – parto humanizado é modismo. É perigoso!

O médico Lucas Barbosa lembrou o paradoxo perinatal brasileiro. O paradoxo brasileiro: com tanta tecnologia e intervenções salvadoras, era para a saúde estar melhor, os indicadores continuam negativos. “Há ilhas como o Instituto Nascer, do Hemmerson”, a quem ele foi homenagear com sua presença. Estava com a filha no colo e muito carinhoso.


A partir daqui, passo a palavra aos debatedores:

Sinais

Hemmerson Magioni (HM): Hoje, em Belo Horizonte, existem pequenos movimentos, sinais de que esta nova consciência da população pode interferir na gestão das instituições públicas e privadas. Uma equipe mais respeitosa, maternidades com suítes de parto. Isto é baseado em evidências científicas. Existe a pressão social, o desejo da mulher, que é construído aqui nesta Roda.
Tenho  atendido algumas europeias e observo a diferença cultural em relação ao nascimento: Diferente o grau de conscientização. Conversou sobre partos na escola, em casa, na família. Falou em apagamento, adorei, há muito não escutava esta palavra. A questão é a informação para a sociedade, a escola.


Lucas Barbosa (LB): O parto e a educação sobre o nascimento deve ser na escola. As coisas só mudam com pressão popular. Os hospitais são fábricas de cesáreas, não ocupam leitos 8/10 horas, o modelo é capitalista, mais rentável a cesárea. TODA GESTANTE, OBSTETRA E PEDIATRAS DEVEM ASSISTIR AO FILME O RENASCIMENTO DO PARTO! Precisa ser assistido por muitas pessoas, para sensibilizá-las. Ele mostra a realidade do cuidado obstétrico no Brasil, com o excesso de manipulações desnecessárias. Sou consultor da Rede Cegonha e visito maternidades pelo Brasil e vi horrores por aí. Vi maternidades que, em todos bebês passa sonda no nariz e retal.

HM: Intervenções médicas necessárias quando bem indicadas passaram a se tornar rotineiras. A grande maioria não demanda intervenções.

LB: A Unimed  está começando a contratar enfermeiras obstetras e construindo 6 suítes pp. E, na rede pública, o Ministério da Saúde preconiza a inserção da enfermeira obstetra nas maternidades brasileiras que atendem pelo SUS.
Outra questão, a responsabilidade sobre o parto deve ser compartilhada entre médicos e enfermeiros. Atualmente, se acontece algum problema e chega ao  jurídico, quem responde é o médico. Informou que na Alemanha todo parto é assinado pelo obstetra e a obstetriz.

O modelo capitalista não está preocupado com a saúde da criança e da mulher. A Obstetrícia, atualmente, é uma área de conflito, de extremos.

Raquel deu o depoimento emocionado do seu parto, assistido pela doula Isabel.

Parto Científico

 Muitas mulheres passam horas em trabalho de parto e, ao final, chegam à cesárea. Dizem, então, sofri tanto para chegar à cesárea. Quero esclarecer que a mulher deve pensar que proporcionou um bem para o bebê, que foi submetido a vários hormônios. Trabalho de parto é um processo de amadurecimento da raça humana. Durante as contrações, esvazia o pulmão, processo de saída e entrada do líquido amniótico amadurece as células do pulmão. Bebê que nasce de parto normal tem mais facilidade, não tem dificuldades respiratórias.
A bolsa rompe, se contrai com a vagina da mulher, bebê deglute os lactobacilos, bactérias mais importantes, o primeiro contato com um germe interior promove a formação de uma imunidade da criança. Na cesárea, a criança sai de uma atmosfera atípica, não tem contato com as bactérias do corpo da mãe e tem contato com as bactérias do meio hospitalar, dos berçários ou da pele da mãe.   A literatura mostra  que o contato com estas bactérias agressivas altera a imunidade e gera crianças altamente alergênicas, com asma na infância, intolerância à leite de vaca e outros alimentos e está relacionado, também, com a obesidade na infância.  O bebê que passa por um parto normal cria uma flora intestinal com capacidade de digestão de gordura e carboidrato. Parto e aleitamento fortalecem o elo entre mãe e filho.
No parto, há uma overdose de ocitocina, prolactina, diminuídos os hormônios do stress. Algumas mulheres relatam que sentem um grande prazer no parto, a ocitocina inunda receptores cerebrais e a área do hipocampo, da memória, que leva ao esquecimento da dor. Criou um prazer muito grande que suplantou o desafio.
Tenho duas bíblias, dois grandes mestres – além, é claro, do Dr. João Batista Lima e Dr. Ivo Lopes -  Professor Galba de Araújo e Moysés Parcionick, que falam do parto como um ritual. Na nossa cultura, acabou sendo um ritual de desencorajamento da gestante. “Dói muito, você tem certeza eu quer o parto normal?” A palavra do médico, naquele momento causa impressão na gestante, o tom da voz.  O modelo é muito centrado no médico. Tenho feito muitas reflexões. Só muda com as mulheres vivendo mais experiências positivas de parto. Parto violento, que foi mostrado no filme, não é mentira. É realidade. Saúde é um trabalho em equipe, todos tem a mesma importância.
 Não é parto humanizado, mas, parto científico, à luz da ciência.
 Deveria ser parto mamiferizado, como diz Michel Odent.

Você é corajosa!

Meu parto foi na Maternidade Santa Fé, com Dr. Marco Aurélio. Cheguei  à Roda antes de engravidar, ainda “tentante”, frequentei cursos do Núcleo Bem Nascer e fiz yoga com a Cleise. Reafirmo a mensagem subliminar dos médicos. Ouvi coisas tripo: você quer parto normal: Você é corajosa!. Em momento algum senti isto nas consultas com o obstetra. No parto, lembrei muito das rodas – destrava  a boca, pois destravando a boca, destrava embaixo. Então, usei as vogais e ficava sempre permitindo a passagem do bebê, deixando acontecer.  Lembrei de fazer um movimento, sugerido pela doula Daphne, jogar o quadril para frente e flexionar um pouco a perna. Uma boa dica.
Estava no quarto do Santa Fé quando o menino coroou, as enfermeiras chegaram com a maca. “Tive certeza que não ia dar um passo. Pensei. Vai nascer aqui. Não vou de maca. Eu desci da cama, fiquei em pé, meu marido atrás e com três forças, ele nasceu. O parto foi de cócoras, foi com o médico de cócoras e eu, em pé!
Marco Aurélio esperou um tempo para cortar o cordão. A  pediatra não quis descer ao quarto. Eu grudei na Ana, e pensei, ninguém tira! Não soltei a Ana para ir até a pediatra de maca.

HM: O modelo da obstetrícia atual é centrado no médico. Ou a gestante tem um médico exclusivo, que está à disposição a qualquer hora do dia ou da noite, ou faz o pré-natal com o obstetra e o parto com a equipe de plantão, que é muito mal preparada para o cuidado obstétrico ao parto neste novo modelo. Ou busca uma instituição pública onde se sinta segura ou vai ganhar com episiotomia, peridural, fórceps de alívio.

 Com o Instituto Nascer, temos um peso maior nas negociações com a maternidade. Temos 70 partos agendados até dezembro. A maternidade está começando a se habituar a mudanças. A pediatria, que há 3/5 anos era muito fria no manejo com o bebê, que destratava a minha doula, hoje em dia o seu cuidado está se transformando.

LB: A pediatria é um grande problema. A pediatria não acompanhou, é preciso acontecer a mudança do paradigma da pediatria. Quando tive minha filha disse ninguém tira este bebê do peito da mãe. Não vai dar banho, ela vai ficar com o vérnix. Na hora da alta, não queriam dar alta. Eu disse sou médico, a mãe é médica e estou indo embora agora. Fica-se refém dos protocolos.

HM: As pediatras mais jovens já estão vindo com a percepção científica. Antenadas. A pediatria do Mater Dei é muito respeitosa. Eu incentivo o plano de parto, é a forma que aquele casal pensa o nascimento. Se sua exigência não vai de encontro ao protocolo do hospital, o casal precisa contratar uma pediatra.

LB: A pediatria no Sofia. Lá tem um chefe que mandou tirar as  perinhas das caixas de parto. Só tem compressa.  Não dão banho no bebê. Pediatras que passam pela escola Sofia aprendem, graças a Deus!

Em um depoimento, uma das gestantes presentes disse que passou a ver com outros olhos a maternidade, depois de assistir o filme O Renascimento do Parto, outro valor, “passei a me perguntar: de que forma esta vida pode vir através de nós? Chorei uma hora e meia, pari e chorei no filme!”

“De repente você sente um vazio. Não sente nada! Foi a explicação de uma mulher após uma cesárea. E isto marcou uma gestante que, a partir daí decidiu, não quero este vazio para mim”.

ANDANDO DE BEM COM A VIDA
A ONG Bem Nascer vai participar do evento que acontece nos dias 27, 28 e 29 de setembro, na Praça da Liberdade. Vai fazer a Roda da Liberdade no domingo, dia 29, às 14h, na Tenda da ONG To de alta!


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