RODA BEM NASCER – 31/08/2013
PARQUE DAS MANGABEIRAS – (Centro de Educação Ambiental/CEAM)
Participação: 28 pessoas
Palestrante convidado: Dr. Hemmerson Magioni (obstetra,
coordenador do Instituto Nascer e do corpo clínico da Maternidade Santa Fé)
A última Roda Bem Nascer chegou a duas conclusões, depois
de ouvir os obstetras Hemmerson Magioni e Lucas Barbosa, que chegou de surpresa
e enriqueceu muito o debate: a formação dos profissionais de saúde envolvidos
com o parto deve abordar a assistência humanizada. As universidades devem dar aos
alunos a oportunidade de vivenciarem
este outro modelo de assistência ao parto e nascimento. E a educação de
crianças e jovens, sensibilizando-os para o sagrado e a beleza da naturalidade
do parto, é um bom caminho para mudança do paradigma. Os obstetras aprenderam
os procedimentos nos livros,nas escolas, e só agora o que aprenderam ganhou um
nome - violência obstétrica. Há que se repensar procedimentos, mudar
currículos.As universidadesdevem trabalharem baseadas em
evidências científicas.
Hemmerson Magioni o
palestrante convidado, já atuou no
serviço público – no Hospital Sofia Feldman ficou dez anos – e, hoje, atende à
saúde suplementar. Faz parte do corpo clínico da Maternidade Santa Fé. Fundou o Instituto Nascer, composto por uma
equipe multiprofissional e é uma opção para as usuárias dos planos de saúde.
Ele foi chamado a falar sobre a
assistência humanizada na rede privada,
pois muitas mulheres querem ter seus filhos nas maternidades, assistidas
por médicos e querem ser respeitadas. Como fazer? Como blindar a instituição, a
medicina mecânica e rotineira, os rituais do nascimento, as intervenções
desnecessárias? Como garantir um atendimento respeitoso e não invasivo da
pediatria?
Todos estes assuntos foram abordados na Roda. Seis
estudantes de enfermagem da UFMG participaram como observadores, mas ao final deram o
depoimento emocionado. Sentiram-se tocados e instigados a seguirem a enfermagem obstétrica. Sensibilizando os inúmeros estudantes que frequentam as
Rodas, da UFMG, da PUC e outras e cada mulher que nos procura, a ONG Bem Nascer segue fazendo
seu trabalho de formiguinha. O depoimento de parto completo da Flávia Campos foi disponibilizado para divulgação, logo o postaremos. No debate, ela resumiu o trabalho de parto e ilustrou com o seu exemplo um parto domiciliar.
O Parto da Princesa
Hemmerson começou falando da Princesa Kate que teve seu
filho no sistema público de saúde, de parto normal, sem intervenções, um menino
de 3.800 kg. Disse da dicotomia serviço público de pouca qualidade e dos
confortos do privado. Existe um questão social, familiar, cultural, diversas vivências de parto. Algumas ouvem – parto humanizado é modismo. É perigoso!
O médico Lucas Barbosa lembrou o paradoxo perinatal
brasileiro. O paradoxo brasileiro: com tanta tecnologia e intervenções
salvadoras, era para a saúde estar melhor, os indicadores continuam negativos.
“Há ilhas como o Instituto Nascer, do Hemmerson”, a quem ele foi homenagear com
sua presença. Estava com a filha no colo e muito carinhoso.
A partir daqui, passo a palavra aos debatedores:
Sinais
Hemmerson Magioni (HM): Hoje, em Belo Horizonte, existem
pequenos movimentos, sinais de que esta nova consciência da população pode
interferir na gestão das instituições públicas e privadas. Uma equipe mais
respeitosa, maternidades com suítes de parto. Isto é baseado em evidências
científicas. Existe a pressão social, o desejo da mulher, que é construído aqui
nesta Roda.
Tenho atendido
algumas europeias e observo a diferença cultural em relação ao nascimento: Diferente
o grau de conscientização. Conversou sobre partos na escola, em casa, na
família. Falou em apagamento, adorei, há muito não escutava esta palavra. A
questão é a informação para a sociedade, a escola.
Lucas Barbosa (LB): O parto e a educação sobre o nascimento deve ser na escola. As
coisas só mudam com pressão popular. Os hospitais são fábricas de cesáreas, não
ocupam leitos 8/10 horas, o modelo é capitalista, mais rentável a cesárea. TODA GESTANTE, OBSTETRA E PEDIATRAS DEVEM ASSISTIR AO FILME O RENASCIMENTO DO PARTO! Precisa ser assistido por muitas pessoas, para
sensibilizá-las. Ele mostra a realidade do cuidado obstétrico no Brasil, com o
excesso de manipulações desnecessárias. Sou consultor da Rede Cegonha e visito
maternidades pelo Brasil e vi horrores por aí. Vi maternidades que, em todos
bebês passa sonda no nariz e retal.
HM: Intervenções médicas necessárias quando bem indicadas passaram
a se tornar rotineiras. A grande maioria não demanda intervenções.
LB: A Unimed está
começando a contratar enfermeiras obstetras e construindo 6 suítes pp. E, na
rede pública, o Ministério da Saúde preconiza a inserção da enfermeira obstetra
nas maternidades brasileiras que atendem pelo SUS.
Outra questão, a responsabilidade
sobre o parto deve ser compartilhada entre médicos e enfermeiros. Atualmente,
se acontece algum problema e chega ao jurídico,
quem responde é o médico. Informou que na Alemanha todo parto é assinado pelo
obstetra e a obstetriz.
O modelo capitalista não está preocupado com a saúde da
criança e da mulher. A Obstetrícia, atualmente, é uma área de conflito, de
extremos.
Raquel deu o depoimento emocionado do seu parto, assistido pela doula Isabel. |
Parto Científico
Muitas mulheres passam horas em trabalho de parto e, ao final, chegam
à cesárea. Dizem, então, sofri tanto para chegar à cesárea. Quero esclarecer
que a mulher deve pensar que proporcionou um bem para o bebê, que foi submetido
a vários hormônios. Trabalho de parto é um processo de amadurecimento da raça
humana. Durante as contrações, esvazia o pulmão, processo de saída e entrada do
líquido amniótico amadurece as células do pulmão. Bebê que nasce de parto
normal tem mais facilidade, não tem dificuldades respiratórias.
A bolsa rompe, se contrai com a vagina da mulher, bebê
deglute os lactobacilos, bactérias mais importantes, o primeiro contato com um
germe interior promove a formação de uma imunidade da criança. Na cesárea, a
criança sai de uma atmosfera atípica, não tem contato com as bactérias do corpo
da mãe e tem contato com as bactérias do meio hospitalar, dos berçários ou da pele
da mãe. A literatura mostra que o contato com estas bactérias agressivas
altera a imunidade e gera crianças altamente alergênicas, com asma na infância,
intolerância à leite de vaca e outros alimentos e está relacionado, também, com
a obesidade na infância. O bebê que
passa por um parto normal cria uma flora intestinal com capacidade de digestão
de gordura e carboidrato. Parto e aleitamento fortalecem o elo entre mãe e
filho.
No parto, há uma overdose de ocitocina, prolactina,
diminuídos os hormônios do stress. Algumas mulheres relatam que sentem um
grande prazer no parto, a ocitocina inunda receptores cerebrais e a área do
hipocampo, da memória, que leva ao esquecimento da dor. Criou um prazer muito
grande que suplantou o desafio.
Tenho duas bíblias, dois grandes mestres – além, é claro, do
Dr. João Batista Lima e Dr. Ivo Lopes - Professor Galba de Araújo e Moysés Parcionick,
que falam do parto como um ritual. Na nossa cultura, acabou sendo um ritual de
desencorajamento da gestante. “Dói muito, você tem certeza eu quer o parto
normal?” A palavra do médico, naquele momento causa impressão na gestante, o
tom da voz. O modelo é muito centrado no
médico. Tenho feito muitas reflexões. Só muda com as mulheres vivendo mais
experiências positivas de parto. Parto violento, que foi mostrado no filme, não
é mentira. É realidade. Saúde é um trabalho em equipe, todos tem a mesma
importância.
Não é parto
humanizado, mas, parto científico, à luz da ciência.
Deveria ser parto
mamiferizado, como diz Michel Odent.
Você é corajosa!
Meu parto foi na
Maternidade Santa Fé, com Dr. Marco Aurélio. Cheguei à Roda antes de engravidar, ainda “tentante”, frequentei cursos do
Núcleo Bem Nascer e fiz yoga com a Cleise. Reafirmo a mensagem subliminar dos
médicos. Ouvi coisas tripo: você quer parto normal: Você é corajosa!. Em
momento algum senti isto nas consultas com o obstetra. No parto, lembrei muito
das rodas – destrava a boca, pois
destravando a boca, destrava embaixo. Então, usei as vogais e ficava sempre
permitindo a passagem do bebê, deixando acontecer. Lembrei de fazer um movimento, sugerido pela
doula Daphne, jogar o quadril para frente e flexionar um pouco a perna. Uma boa
dica.
Estava no quarto do Santa Fé quando o menino coroou, as
enfermeiras chegaram com a maca. “Tive certeza que não ia dar um passo. Pensei.
Vai nascer aqui. Não vou de maca. Eu desci da cama, fiquei em pé, meu marido
atrás e com três forças, ele nasceu. O parto foi de cócoras, foi com o médico
de cócoras e eu, em pé!
Marco Aurélio esperou um tempo para cortar o cordão. A pediatra não quis descer ao quarto. Eu grudei
na Ana, e pensei, ninguém tira! Não soltei a Ana para ir até a pediatra de maca.
HM: O modelo da obstetrícia atual é centrado no médico. Ou a
gestante tem um médico exclusivo, que está à disposição a qualquer hora do dia
ou da noite, ou faz o pré-natal com o obstetra e o parto com a equipe de
plantão, que é muito mal preparada para o cuidado obstétrico ao parto neste
novo modelo. Ou busca uma instituição pública onde se sinta segura ou vai
ganhar com episiotomia, peridural, fórceps de alívio.
Com o Instituto Nascer,
temos um peso maior nas negociações com a maternidade. Temos 70 partos agendados até dezembro. A
maternidade está começando a se habituar a mudanças. A pediatria, que há 3/5
anos era muito fria no manejo com o bebê, que destratava a minha doula, hoje em
dia o seu cuidado está se transformando.
LB: A pediatria é um grande problema. A pediatria não
acompanhou, é preciso acontecer a mudança do paradigma da pediatria. Quando
tive minha filha disse ninguém tira este bebê do peito da mãe. Não vai dar
banho, ela vai ficar com o vérnix. Na hora da alta, não queriam dar alta. Eu
disse sou médico, a mãe é médica e estou indo embora agora. Fica-se refém dos
protocolos.
HM: As pediatras mais jovens já estão vindo com a percepção
científica. Antenadas. A pediatria do Mater Dei é muito respeitosa. Eu incentivo
o plano de parto, é a forma que aquele casal pensa o nascimento. Se sua
exigência não vai de encontro ao protocolo do hospital, o casal precisa
contratar uma pediatra.
LB: A pediatria no Sofia. Lá tem um chefe que mandou tirar
as perinhas das caixas de parto. Só tem
compressa. Não dão banho no bebê.
Pediatras que passam pela escola Sofia aprendem, graças a Deus!
Em um depoimento, uma das gestantes presentes disse que
passou a ver com outros olhos a maternidade, depois de assistir o filme O
Renascimento do Parto, outro valor, “passei a me perguntar: de que forma esta
vida pode vir através de nós? Chorei uma hora e meia, pari e chorei no filme!”
“De repente você sente um vazio. Não sente nada! Foi a explicação
de uma mulher após uma cesárea. E isto marcou uma gestante que, a partir daí
decidiu, não quero este vazio para mim”.
ANDANDO DE BEM COM A VIDA
A ONG Bem Nascer vai
participar do evento que acontece nos dias 27, 28 e 29 de setembro, na Praça da
Liberdade. Vai fazer a Roda da Liberdade no domingo, dia 29, às 14h, na Tenda
da ONG To de alta!
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