quarta-feira, 22 de abril de 2009

AS MULHERES ESTÃO SOFRENDO NO INTERIOR


As mulheres do interior de Minas Gerais estão sofrendo muito para terem seus filhos. E não é por parto natural. São vítimas de um sistema tecnicista, mecânico e frio que faz cesariana à revelia, são vítimas da crença de que cesárea é melhor, pra que sentir dor? Fazem seus partos com médicos de outra mentalidade e que ainda não perceberam a mudança de paradigma que está acontecendo dentro da questão parto, no Brasil e no mundo.

Que persistem cortando todas as mulheres, na contramão da ANVISA que agora lhes propõe uma mudança prática, estética (veja postagens anteriores sobre o assunto). Eu me pergunto, como vai ser isso? Será que a ANVISA também vai exigir isso lá no interior, onde as mulheres sofrem para terem os filhos nas cesáreas eletivas, algumas quase morrem, outras ficam até paraplégicas pelo efeito da anestesia? Será que vai haver fiscalização?.
Estive a pouco na minha querida Carmo do Rio Claro, uma cidade cercada pelo Lago de Furnas e que perdeu um terço do seu território alagado num dilúvio de proporções bíblicas, dizia-se na época. Estava na casa da minha avó Beatriz, hoje casa da tia Dolores, quando chegou uma mãe e um bebezinho. Minha tia benze as crianças de quebranto em supremo amor. Elas saem dormindo e tranqüilas. A mãe em questão teve seu filho na vizinha Passos. Muitos migram para Passos buscando uma medicina mais técnica. Ela disse que não o viu nascer. Teve o nenê desmaiada. Ela contou que falou para o médico, estou morrendo e foi apagando. O marido, lá fora (ainda não há acompanhantes de parto por lá?, a Lei do Acompanhante lá não está cumprida?) vê a movimentação, a correria dos médicos. Pergunta, o que se passa? Eles dizem: uma mulher está passando mal, mas não é a sua, sendo que ele sabia que era ela. O médico dizia: respira.Ela dizia, não consigo.Estou morrendo. Ela quase morreu no parto? No outro dia, o médico a visitava várias vezes perguntando se ela estava bem, se estava sentindo as pernas, os pés... Acho que ela quase ficou, como outras duas da cidade, paraplégica. Uma delas, segundo me informaram na ocasião, nem fala, vegeta. Há poucos dias, ligaram da maternidade e ficaram assuntando se ela estava bem.

Em outra postagem(Parto no Interior) contei de uma outra mulher que começou a ser cortada antes da anestesia ter dado efeito. Ela gritou, eles a levantaram, sangrando, e passaram um produto nas costas rapidamente para outra dose. Fizeram a cesárea. Ao final, ela demaiou, sua pressão caiu repentinamente e eles viraram a cama de cabeça para baixo. Quando voltou da anestesia estava com as costas totalmente queimadas pelo tal produto. Imagine a dor desse pós parto!
Essas são as histórias de dor que tenho ouvido das mulheres quando saio pela cidade falando da nossa causa, a humanização do nascimento, com uma ou outra conhecida. Aí me lembrei de alguns médicos – do Dedeco, que é até meu primo e ajudou minha mãe em um dos partos e do eterno Dr. Luis Introcaso Neto que dizia que cada parto tem seu tempo e sua hora.
Tia Dolores, hoje com oitenta e poucos, conta que teve seu parto em Belo Horizonte. Nasceu uma filha, Ângela, e passou a perder os outros –perdeu três – até descobrir que seu sangue era negativo e do tio positivo. Aí, ia para Belo Horizonte, onde nesta época se trocava todo o sangue do menino logo ao nascer. Aqui em BH ela teve os outros dois queridos: Ricardo e Maria José, no Felício Rocho e diz que foi muito feliz, partos rápidos e médicos ótimos. Isso na década de 50.
Minha mãe Nivalda teve sete filhos, todos de parto normal. Essa história de cesárea é uma história recente, mas tem mudado a cultura. Lá no interior pude perceber que a anestesia pode ser muito perigosa, pode aleijar, pode matar. E que um parto natural é muito mais indolor, corre muito menos sangue, a recuperação é muito mais fácil, a interação da mãe com o bebê muito mais intensa e profunda.
O parto cesáreo fere a ecologia do ser. Quebra a harmonia. A simplicidade. Faz virar cirurgia coisas da vida, que não são doença. Não é porque dói, que parto é doença. Uma dor absolutamente natural, é o corpo da mãe empurrando o filho para a vida, dando o empurrão inicial. Pobres dos que nascem de cesárea, que não ganham esse empurrão. Vão ter que fazer mais força para aprender a lutar. Num parto natural mãe e filho lutam juntos pela vida e saem vitoriosos.


Estão nascendo bebês prematuros, com pulmões ainda não preparados e podem carregar seqüelas de respiração por toda uma vida. Uma cesárea não termina ali. A criança foi retirada, não nasceu. A mãe mais consciente diz que não pariu. Engravidou, embarrigou, mas não pariu. Algumas ficam com dores emocionais. Segundo Tomio Kikushi “a cesárea é um horrorismo” . Vou depois transcrever a entrevista que deu ao Jornal Bem Nascer. Ele, que trabalha com saúde e é um dos introdutores da Macrobiótica no Brasil, diz que pode causar uma doença no útero mais tarde.
O parto repercute dentro da pessoa por toda uma vida, seja ele normal, cesárea ou natural. É a porta de entrada para este mundo. Como foi a recepção? Num ambiente cheio de bisturis e suturas... Numa maternidade privada com um médico adepto do parto normal? Numa banheira na casa de parto, cercada de mulheres... em casa, com o marido e as parteiras acadêmicas? A tendência é o parto voltar para casa, com todo apoio da tecnologia e da medicina na retaguarda. É preciso mudar o modelo, o atual é centrado no médico. Quando eles aprenderem a fazer parceria com as mulheres, no caso, as parteiras acadêmicas – as enfermeiras obstetras, ou as doulas que servem ao parto, haverá menos cesáreas, porque ocupará menos tempo deles. Dá para dar tempo ao tempo, tempo ao parto, deixando os meninos nascerem em seu tempo.

Parto natural também é mais barato, demanda menos remédios, menos tempo de internação, muitas vezes, a cesariana exige também internação das crianças. Por isso e por outras, a ANVISA está tomando posição, exigindo que todo diminuam seus índices de cesárea. Ela vai monitorar o número de partos normais ou cesáreos, os índices dos nenês, taxas de mortalidade neonatal e de mortalidade materna.
Belo Horizonte está convidada a se adequar, as instituições de saúde vão ter que se adequar, fazer reformas e implantar na forma essa nova forma de pensar. Todo o ambiente interno terá que ser reformado, transformado..
Nós, da ONG Bem Nascer, estamos de prontidão, observando o que se passa e fazendo história em Belo Horizonte. Representamos as mulheres usuárias que desejam ter seus partos o mais natural possível, no silêncio, com música, num quarto de hospital, em nossas casas, mulheres que preservam a ecologia do nascimento. Mamíferas que estão ali dispostas e totalmente abertas à amamentação em livre demanda e que sonham e realizam partos maravilhosos. Que gostam do ofício de ser mãe e compreendem a importância desse papel na história do ser humano. Experiências com a maternidade que são depois compartilhados nas RODAS BEM NASCER, uma roda de mulheres que se abraçam nesse momento tão especial. Não estou excluindo os homens, é que a Roda é feminina por natureza.

RODA BEM NASCER
PARQUE DAS
MANGABEIRAS
TRABALHA A ECOLOGIA DO NASCIMENTO/Programa de Educação Ambiental do Parque das Mangabeiras.
NO CEAM (CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL)
NO PRÓXIMO SÁBADO, DIA 25 DE ABRIL, 9H30
TEMA: PARTO DOMICILIAR mitos e verdades
Palestra de Mirian Rego (enfermeira obstetra/ong Bem Nascer)
Entrada Gratuita.
Levar contribuição para lanche coletivo
Para casais grávidos e outros familiares interessados.

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